Nas duas ultimas décadas houve grandes avanços e progresso na industria
vinícola sul africana. Em meados da década de 80 o uso de novos e
semi-novos barris de carvalhos passou a ser bem difundido pelos grandes
produtores, para o envelhecimento dos vinhos tintos e em pequena escala
para os vinhos brancos. As pragas, que sempre foram uma fonte de
preocupação para os viticultores, foram totalmente controladas, se não
dizimadas. As grandes vinícolas aderiram ao programa de replantio de
suas vinhas, com a finalidade de aumentar a qualidade das cepas e
consequentemente produzir vinhos de excelente qualidade.
Essa
época marca a entrada da África do Sul, como um dos representantes dos
vinhos do Novo Mundo, produzindo vinhos mais acessíveis logo após o
lançamento, em vez de vinhos que exigem um longo prazo na adega.
O
ajustamento com acido tartárico raramente é aplicado. Os chardonnays já
não passam muito tempo em contato com o carvalho, a introdução da
fermentação malolática trouxe uma nova dimensão aos estilos produzidos.
Os
produtores adotaram praticas mais modernas de viticultura, um fator
muito negligenciado no passado. Atualmente uma vinícola não entra em
produção sem que estudos científicos de no mínimo dois anos sejam
realizados, tais como, identificação do solo, condições climáticas
predominantes, cepa e enxerto compatíveis um com o outro, a
compatibilidade de ambos com o solo, necessidade de irrigação, entre
outros fatores. O Conselho de Pesquisa Agricultural Nietvoorbij, hoje de
renome internacional, ee um dos grande responsáveis por essas mudanças.
Outro
fator essencial para a ascensão do vinho sul africano foi a
conscientização dos produtores locais com a própria identidade do vinho
do Cabo. Atualmente o Cabo já não se preocupa em copiar o estilo de
"terroir" da Franca, Austrália ou Califórnia. O vinicultor local se deu
conta que o Cabo tem o potencial de produzir o seu próprio estilo e
competir com sucesso no exterior.
Porem, a industria vinícola sul
africana ainda não se deu satisfeita com o sucesso alcançado nesses
últimos anos. Os grandes vinicultores continuam experimentando, seja na
vinícola ou dentro da adega, em busca de melhor qualidade e
consistência.
A tendência ee a produção de vinhos saudáveis com
menos aditivos e manipulação possíveis. O resultado não poderia ser
outro. Novas vinícolas tem aberto as portas a cada ano e aquelas já bem
estabelecidas, tem colocado vinhos de grande expressão no mercado.
As
cepas predominantes no momento, denominadas "cepas nobres" ou "the big
6" são: Cabernet Sauvignon(5,1% das vinícolas sul africanas),
Merlot(2,2%), Shiraz(1,3%), Pinotage(um híbrido do Pinot Noir + Cinsaut
3,9%), Sauvignon Blanc(4,8%), Chardonnay(4%). Outras cepas de destaque
são: Chenin Blanc(a cepa mais versátil e plantada no pais com 26,8%),
Colombard(10,9%), Semillon(1%), Muscat(5,3%), Weisser Riesling(0,8%),
Cinsaut(4,1%), Cabernet Franc e Pinot Noir em ascendência.
A
grande maioria das vinícolas são abertas ao publico, algumas oferecem
uso de dependências como restaurantes, centro de convenções, teatro
arena, alem da degustação dos vinhos da fazenda. Os vinhos podem ser
comprados diretos da fazenda, cujos preços variam de US$3 a US$20,00
dólares.
Os grandes expoentes entre as vinícolas da África do Sul que produzem vinhos de qualidade e consistência são:
Na região de Constantia (zona urbana da Cidade do Cabo)
-
Buitenverwachting - sinônimo de finesse e elegância. O replantio das
vinhas no começo da década de 80, trouxe altos dividendos para essa
vinícola. Ela se especializa na produção do Christine(blend), Cabernet
Sauvignon, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Merlot. O segundo rotulo da
fazenda Buiten Keur(tinto) e Buiten Blanc(branco) são também de alta
qualidade.
- Klein Constantia - uma vinícola bem eclética.
Sauvignon Blanc, Chardonnay, Semillion, W. Riesling, Cabernet S.,
Shiraz, Pinot Noir, Marlbrook(blend) são produzidos. Porem, a vinícola
ficou famosa por produzir o legendário Vin de Constance, um vinho de
sobremesa, favorito de Napoleao Bonaparte quando no exílio na ilha de
Santa Helena, e também o ponto fraco do Madiba (Presidente Mandela).
Recentemente a publicação francesa Les Plus Grands Crus du Monde incluiu
o Vin de Constance entre os 44 grandes rótulos do mundo. No ano passado
fez parte do Primeiro Annual Decanter Great Winemaker Dinner no hotel
The Ritz em Londres.
- Na região de Stellenbosch( a grande
concentração das melhores vinícolas sul africanas, 45 km da Cidade do
Cabo) - Warwick - A canadense Norma Ratcliffe ee uma das poucas mulheres
vinicultoras do pais. A vinícola se especializa em Pinotage, Cabernet
Franc, Trilogy(blend) e Cabernet Sauvignon.
- Thelema - essa
vinícola faz parte da elite reconhecida internacionalmente. O
vinicultor, Gyles Webb, foi um dos convidados para uma palestra do
evento mais prestigiado dos EUA, o Wine Spectator's New York Wine
Experience. Um dos melhores exemplares de Cabernet Sauvignon, Merlot,
Chardonnay e Sauvignon Blanc são produzidos nesta vinícola. Os vinhos
depois de lançados no mercado não duram nas prateleiras. Cansado de
receber tantas encomendas por telefone, em um desses telefonemas ele
respondeu: "Desculpa, nem que fosse pra Rainha da Inglaterra eu poderia
suprir o meu Sauvignon Blanc". A pessoa do outro lado da linha
respondeu:
"Mas é pra Rainha mesmo". A pessoa que encomendou o
vinho estava organizando o ultimo jantar oficial da Rainha Elizabeth
durante a visita dela na África do Sul!
- Grangehurst - o
vinicultor Jeremy Walker ee um dos grandes artesãos da industria. Essa
será apenas a 6 colheita dessa "wine-boutique", porem, todos os
lançamentos são de dar água na boca. Cabernet Sauvignon, Pinotage e
Cabernet-Merlot blend são os vinhos produzidos. Produziu em 93 um dos
poucos vinhos a receber cinco estrelas dos críticos locais, o
Cabernet-Merlot blend.
- Stellenzicht - a reputação do vinicultor
Andre Van Rensburg: "tudo o que ele toca vira ouro". Sem duvida o
vinicultor mais premiado no pais nos últimos anos. Ele experimentou todo
tipo de cepa com muito sucesso. Em 94 ele produziu um shiraz (Syrah 94)
que deu muita polemica na África do Sul. Os críticos locais concederam
apenas uma medalha de prata no concurso Veritas a esse vinho. O vinho no
exterior bateu os melhores shirazes australianos e franceses. Era
vendido a US$30,00 a taça no hotel Waldorf-Astoria em Nova Iorque. O
vinicultor em busca de outros desafios mudou para a vinícola Vergelegen.
-
Kanonkop - o vinicultor Beyers Truter tem o titulo de o Rei da Pinotage
do pais. Ultimamente ele esta a frente de uma comissão para introduzir
essa cepa no cenário mundial, que já ee plantada na Califórnia, Nova
Zelândia e Zimbabwe. O Cabernet e o Paul Sauer(blend) são outros vinhos
produzidos nessa vinícola. Beyers também ee responsável pelo vinho
produzido na vinícola Beyerskloof, o Cabernet e o Pinotage.
-
Vergelegen - os experts estão de olho nessa vinícola. Uma das adegas
mais modernas do pais, apesar das vinhas ainda jovens, tem produzido
Sauvignon Blanc, Chardonnay e Merlot de alta qualidade. Um dos grandes
vinicultores do pais, Andre Van Rensburg, recentemente tomou posse da
adega.
- Lievland - tem produzido excelente Shiraz e DVB(blend). O
segundo rotulo da vinícola Lievlander recebeu um cinco estrelas da
Decanter numa competição onde mais de 100 cabernet e cabernet blend sul
africanos participaram em Londres.
- Mulderbosch - um dos mais
consistentes Sauvignon Blanc e Chardonnay do pais. O blend produzido na
vinícola, Faithful Hound, vem melhorando a cada ano.
- Meerlust -
uma das vinícolas mais tradicionais do pais, nas mãos do vinicultor
italiano Giorgio Dalla Cia, produzindo primeira classe Merlot,
Rubicon(blend), Pinot Noir e em 97 o primeiro Chardonnay da vinícola
após 10 anos de experiência interna. Ainda em 97 Meerlust lançou a
primeira grappa sul africana.
Na região de Paarl (60 km da Cidade do Cabo)
-
Backsberg - extremamente dinâmi ca, mais conhecida pela alta qualidade e
baixos preços dos vinhos produzidos. Uma vinícola versátil, plantando
vários tipos de cepa, as quais se sobressaem o Cabernet Sauvignon,
Shiraz, Klein Babylonstoren(blend), Chardonnay e Chenin Blanc. Também
produz excelente "brandy".
- Fairview - também no mesmo esquema
da Backsberg. Uma vinícola que esta sempre inovando, criando diversos
estilos diferentes de vinhos. Bom vinho, ótimo preço. Chardonnay, Merlot
e Shiraz merecem atenção.
- Glen Carlou - outra elite
internacional muito respeitada. Essa vinícola se especializa no Grande
Classique(blend), Chardonnay e Pinot Noir. Deu uma nova dimensão ao
Chenin Blanc sul africano nos últimos anos. O "vinho do porto" feito da
touriga nacional + tinta barroca + tinta roriz tem ganhado muito
destaque.
- Veenwouden - outro grande artesão da industria,
Marcel van der Walt. Marcel é um discípulo de Saint Emilion e Pomerol,
onde ele estagiou por vários anos. Ainda na quinta colheita, essa
vinícola tem batido recorde de consistência, mesmo na pobre safra de 96,
que deixou muito vinicultor a desejar. A vinícola produz Merlot,
Veenwouden Classique(blend) e o segundo rotulo Vivat Bacchus.
Na região do Overberg ( a região numero I do pais em termos de condições climáticas)
-
Hamilton Russel e Bouchard Fynlaisson são duas vinícolas que produzem
os melhores Pinot Noir da África do Sul. O Chardonnay ee outra cepa de
qualidade nessas duas vinícolas.
Alem das vinícolas acima
mencionadas, outras gozam de grande destaque internacional, a maioria
situadas na região de Stellenbosch. A África do Sul também produz
excelente Sherry e Vinho do Porto, os quais ultimamente vem sofrendo
muita pressão do Mercado Comum Europeu para omitir os nomes Sherry e
Port de seus rótulos. Seguindo o exemplo do Champagne, que na África do
Sul ee chamado de Methode Cap Classique ou Sparkling Wine, Espanha e
Portugal alegam que os rótulos originariam competição no mercado
internacional.
Os "sparkling wines" mais cotados:
- Graham Beck, JC Le Roux, Pierre Jourdan, Pongracz, Villiera and Twee Jonge Gezellen Krone Borealis.
Os "sherry" mais cotados:
- Os produzidos pela KWV, Bertrams e Monis.
Os "port" mais cotados:
- Boplaas, Bredell, Die Krans, Glen Carlou, Landskroon e Overgaauw.
Fonte: ABS online